Nota da PM Paulista rebate a influência ideológica em cursos da corporação
O Faces da Violência abre o espaço para nota do Comandante Geral da Polícia Militar de São Paulo, Coronel Marcelo Vieira Salles, que rebate reportagem da Folha e declaração que dei sobre palestras em curso de doutorado da PMESP. Acho importante abrir o canal de diálogo e ofereço o espaço para o contraponto e debate. Polícias são instituições centrais para o Estado Democrático e debatê-las de forma franca, respeitosa e aberta só engrandece São Paulo e o Brasil.
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Polícia Militar: uma Instituição de Estado, que trata com profissionalismo e seriedade a segurança do cidadão
A Polícia Militar lamenta a matéria do jornal Folha de São Paulo desta segunda-feira (2), com o título ‘Ministros ideológicos e influencer bolsonarista darão palestra em curso de doutorado da PM-SP’, que direciona o leitor a um equívoco gigantesco sobre os objetivos do curso de doutorado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública da nossa Instituição.
Primeiramente, é importante pontuar que o objetivo do curso é permitir que o futuro comandante aprimore seus conhecimentos de gestão, buscando as qualificações para administrar uma Instituição gigantesca, cujo orçamento anual, de 16 bilhões de reais, supera o de 11 Estados da Federação, tudo para que seja possível cuidar de 45 milhões de pessoas, 24 horas por dia, ininterruptamente. Para se ter uma ideia, a Polícia Militar recebe, em média, 80 mil ligações por dia em seu telefone de emergência, 190, sobre as mais variadas necessidades do cidadão. O sucesso do sistema de gestão implantado há anos na Instituição se faz perceber na redução de praticamente todos os indicadores criminais no Estado, com destaque para os homicídios, que estão hoje em patamares menores do que muitas cidades dos EUA e da Europa, em torno de 6,4 casos por 100 mil habitantes.
A matéria apresenta problemas sérios de apuração e confunde o leitor ao tentar induzi-lo a acreditar que o curso possui viés ideológico. O Centro de Altos Estudos de Segurança (CAES) convidou pessoas respeitáveis e autoridades máximas em suas áreas de atuação, pelo cargo que ocupam, para tratar de assuntos diretamente ligados à segurança pública e de interesse social. Na estrutura burocrática do Estado, não existem “ministros ideológicos”, mas sim Ministros de Estado, pessoas respeitáveis, sendo certo que compartilhar os seus conhecimentos é extremamente relevante para os futuros gestores de polícia.
O Ministro da Educação, por exemplo, tratará de tema ligado ao sistema de educação da Polícia Militar, assunto diretamente relacionado à qualidade do ensino e formação de profissionais para atuar no policiamento. O Ministro do Meio Ambiente, por sua vez, tratou de tema extremamente atual e relevante sobre ocupações em áreas de mananciais, tráfico de animais silvestres e degradação de áreas de preservação permanente, entre outros temas. É incompreensível a tentativa da reportagem de desqualificar as autoridades apontadas por discordar de suas ideias, desconsiderando as posições que ocupam, pois fazem parte de um governo eleito democraticamente.
Para a Polícia Militar, o que importa é a qualificação do palestrante, não seu “viés ideológico”, que entendemos ser uma discussão anacrônica e sem interesse social. Por esse motivo, são convidadas pessoas das mais diversas áreas de atuação e autoridades em seus segmentos. Além dos ministros convidados, foram convidados também integrantes do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Ordem dos Advogados do Brasil, entre outras autoridades. O próprio especialista entrevistado pela reportagem, Renato Sérgio de Lima, já palestrou em 2014 e é orientador de um dos doutorandos. Representantes de minorias representativas, como o movimento LGBT, também foram convidados e ministraram palestras. Neste mesmo curso, há parcerias importantes como as existentes com a Escola de Sociologia e Política, com o Núcleo de Estudos de Defesa, Estratégia e Segurança da UFSCar, com o Instituto de Relações Internacionais da USP e com o Instituto Sou da Paz. Estão por vir, ainda, palestrantes da UNICAMP, da FGV e do INSPER, demonstrando claramente a preocupação institucional em agregar valor aos doutorandos, de maneira multidisciplinar, independentemente de ideologia ou política.
Outro exemplo da preocupação institucional em capacitar seus integrantes a oferecer serviço de qualidade ao cidadão foi o evento que buscou ampliar conhecimentos sobre manifestações e movimentos sociais – o Seminário Protesto Seguro, desenvolvido pela Polícia Militar em parceira com o Instituto Sou da Paz, realizado no início de agosto com os diversos atores envolvidos.
A Polícia Militar é uma Instituição de Estado e repudia veementemente a tentativa de classificá-la política ou ideologicamente, principalmente a partir de profissionais que deveriam informar com clareza, isenção e exatidão, cumprindo assim a função social do jornalismo.
Marcelo Vieira Salles, 52
Coronel PM – Comandante Geral da Polícia Militar